O DONO DA HOSPEDARIA
Um casal me bate à porta
numa noite singular.
Já levanto e me pergunto:
A essa hora, quem será?
– De Nazaré proviemos
para o recenseamento.
Forasteiros aqui somos
em busca de alojamento.
Sou trabalhador honesto,
por abrigo peço auxílio
para mim e para ela,
que, olhai, espera um filho.
Sou José, um carpinteiro,
e esta jovem, Maria.
Se possível, dai-nos pouso
hoje em vossa hospedaria.
Respondi, não tenho como,
está cheia a estalagem,
mas podereis abrigar-vos
e descansar da viagem
aqui numa estrebaria,
entre mansos animais.
Isso posso oferecer-vos,
que melhor não posso mais.
O casal agradeceu-me,
para lá se dirigiu.
Começava ali a história
que o mundo inteiro ouviu.
Naquela noite uma estrela
reluziu no Oriente
e reis vieram de longe
adorar o Onipotente
que em trajes de humildade,
para glória imorredoura,
não encontrando palácios,
nasceu numa manjedoura.
Inocente, eu não sabia
do destino, desses traços.
E o casal depois partia
com seu rebento nos braços.
Mal me lembro aqueles rostos,
não lhes prestei atenção.
A vida tem dessas coisas,
tanta urgência e tudo em vão.
Passaram os anos, e o mundo
refez toda a sua história
por aquele que nascera
para Deus, em honra e glória.
Também eu hoje carrego
minha cruz da consciência:
Vi nascer na manjedoura
o Senhor da Onipotência.
Por que não dei minha cama?
Por que não me apresentei
como alguém que teve a honra
de hospedar em casa um Rei?
E se Jesus retornasse
na aparência de um irmão,
será que lhe abriria
dessa vez o coração?
Na manjedoura da alma,
quanto amor e quanta luz!
No meu coração mesquinho
entra e dorme, meu Jesus!
António Victor
Professor, Poeta, Escritor, Compositor…