O filosofo Padre Joacir d’Abadia lhe apresenta as grandes amigas, a fé e a amizade

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A confiança no Divino Espírito Santo os amparou, fortalecendo lhes o coração e iluminando seus caminhos.


As grandes amigas: a fé e a amizade

Sob o implacável olhar do relógio, que marchava sem misericórdia, o ponteiro apontava inexoravelmente para uma hora exata. Ali iniciava um relato de um caso, o qual dizia ser verídico o mendigo. É esta história, tão plena de desafios e compaixão, que hoje desejo compartilhar com cada alma sensível que me acompanha nestas mais variadas páginas tentando descobrir qual é a senha.

O mendigo iniciou sua história… Nos sagrados domínios de um ilustre fazendeiro, devoto fervoroso do Divino Espírito Santo, repousa uma narrativa que transcende o mero tecido terreno. Como um jardim fadado a mudanças e transformações, a vida desse nobre senhor e sua prole foi lançada em uma jornada tumultuada após o falecimento de seu patriarca.

Uma tormentosa maré de infortúnios se abateu sobre a família, e a fúria da recessão varreu suas posses, deixando apenas a fé como sustento inabalável. Venderam seu preciosíssimo rebanho, símbolo de prosperidade e honra, em sacrifício nobre para custear os imprescindíveis tratamentos de saúde e as necessidades básicas de sobrevivência.

Nota-se nas palavras do mendigo que esta história era contada a todos que por ele passava. Suas mãos dançavam no ar fazendo os gestos enquanto contava a história. Às vezes, para a história ficar mais empolgante, ele se levantava e andava de um lado para o outro. Era notório que ele tinha domínio do que dizia. Ele continuava a contar sua história!

Nesse vendaval de desafios, onde os ventos da adversidade sopravam impiedosos, a fé daquela família se ergueu como um farol no horizonte sombrio. A confiança no Divino Espírito Santo os amparou, fortalecendo-lhes o coração e iluminando seus caminhos. Foi a generosidade dos céus, manifestada por meio da compaixão e solidariedade de um nobre amigo, que sustentou e alentou suas almas em luta.

Hoje, ao recontar essa anedota marcada pelo sacrifício e pela devoção, ergo minha voz em louvor à resiliência desse nobre clã, que soube transformar a provação em oportunidade de unir-se, de praticar a caridade e experimentar a empatia. Pois, ao vender o próprio sustento, encontraram uma riqueza inestimável: a comunhão com o próximo e a graça divina, que transcende todo o ouro e prata deste mundo.

Naquele derradeiro instante, quando apenas seis vacas e um boi, derradeiros guardiões de um passado de abundância, permaneciam no curral, a angústia e a urgência se entrelaçavam no coração daquela família que via perder todos os seus bens. Esse gado, além de sustento, era um fio de esperança, um laço com a tradição e um elo de vida, providenciando leite para alimentar a família e manter a lareira acesa naquela casa.

Foi nesse ponto crítico que o devoto fazendeiro, guiado pela fé no Espírito Santo, assumiu um papel divino. Ao ser informado sobre a necessidade de vender o restante do gado para custear o tratamento de saúde e garantir o sustento diário, ele proclamou com convicção que nenhuma carência os consumiria, visto que quem os aparariam seriam o Divino Espírito Santo. Poderiam vender o gado e confiar na providência Divina.

Ele se tornou, com estas palavras, o instrumento da divina providência.

Com generosidade sem igual, o fazendeiro afirmou que o leite não faltaria para a família, mesmo com a venda do gado. Suas palavras ecoavam como cânticos sagrados, reafirmando a crença de que o Espírito Santo não os abandonaria em meio às tribulações. E assim, impelido pelo amor ao próximo e pela confiança no divino, ele acendeu uma luz de esperança em um momento sombrio, mostrando que a caridade e a fé são bálsamos capazes de aplacar as tempestades da vida.

E assim, quase ao crepúsculo de um dia que já se despedaçava, a tarde inesperada, uma majestosa boiada composta por cinquenta vacas paridas e um imponente boi chegou àquela fazenda, como uma benção dos céus. A notícia se espalhou na família, envolvendo a todos com uma aura de esperança e gratidão.

O fazendeiro, movido pela amizade que nutria pelo finado esposo da senhora dona daquela abençoada família, encontrou-a naquele momento de generosidade divina. Suas palavras eram carregadas de afeto e pesar pela perda do amigo. Ao explicar o propósito daquela dádiva, revelou a sua íntima conexão com a história daquela família.

“Seu esposo era como um irmão para mim, e sua partida abalou meu coração”, disse o fazendeiro, com voz carregada de emoção. “Foi por isso que providenciei estas cinquenta vacas paridas, cada uma delas trazendo uma bezerra ao mundo, para assegurar o leite e o sustento que vocês precisam. E por que cinquenta? Para que cada um de seus filhos receba cinco novilhas, e para você, querida senhora, reservo também cinco novilhas.”

As palavras do fazendeiro chegaram como cânticos de gratidão e renovação. Era como se o próprio Divino Espírito Santo tivesse guiado aquele rebanho até ali, como uma resposta às preces e necessidades daquela família. A generosidade do fazendeiro era o reflexo da fé em ação, demonstrando que a amizade, a compaixão e o amor ao próximo são laços que transcendem a vida marcado pelo dinheiro e deixam um legado de luz e benevolência.

Os ventos da gratidão sopraram vigorosamente nos recônditos da alma daquela nobre senhora, enchendo-a de uma alegria que transbordava como um rio caudaloso de emoções. Cada palavra do fazendeiro, impregnada de bondade e generosidade, encontrou solo fértil em seu coração, semeando uma colheita eterna de gratidão.

Os nove filhos daquela abençoada família, marcados para sempre pelo ato de benevolência do fazendeiro, elevam diariamente suas preces aos céus. Cada oração é uma pétala de amor e lembrança, um tributo de reconhecimento e carinho pela caridade e misericórdia que foram estendidas em seu momento de necessidade.

Nos corações daqueles filhos, o legado de bondade do criador de gados brada como uma melodia eterna, uma canção que inspira a prática da compaixão e o cultivo da generosidade. E assim, a caridade manifestada naquele gesto reverbera nas gerações futuras, ensinando que o amor ao próximo é a essência de uma vida plena e significativa.

Assim, que os ventos da benevolência e amor ao próximo possam impulsionar-nos a gestos de caridade, pois é na entrega ao outro que encontramos nossa mais nobre humanidade, é na caridade que nossa alma floresce e se ilumina, refletindo a divina graça. Que possamos, tecer essa rede de amor que suaviza as dores do mundo e faz reverberar a música celestial da solidariedade, a qual consegue doar 50 novilhas por causa da sua fé firme no Divino Espírito Santo e por causa de sua amizade verdadeira por aquele que Deus acolhera na eternidade.

O relato terminou com o mendigo em prantos, chorando a saudade do seu, o qual havia cuidado tão bem os outros ao ponto de ajudar com este nobre gesto, porém sua vida estava entregue à mendicância, a pobreza, como ele mesmo insistia em dizer, nunca havia feito parte de sua vida. Ali pude compreender que pode existir senha que não vale muita coisa, mas tem sua história. Nisso seus pensamentos iam para longe. O mendigo se levantou abrutalhado! Seu coração havia falado pra um desconhecido o que sua alma guardava. Ao receber um olhar firme, forte como uma traição, ele se acalmou como uma leve brisa de com uma voz trêmula e umedecida pelo choro, fez um convite àquele que lhe escutava atentamente: “venha conhecer onde eu moro!”. Com estas palavras acenou afirmativamente com as mãos mostrando um monte de pedras que fica na beira da rua, a qual tinha uma cavidade que servia de porta. Na entrada da caverna havia uma marcação que sinalizava um ponto. Como a entrada não era tão alta, se precisava encurvar o pescoço para adentrar.

A caverna, na verdade, era esculpida na pedra de forma que da entrada já enxergava o seu fundo. Era do tamanho de um quarto. Conseguia acolher bem seu morador, o qual era entusiasmado com a arte. Ele mesmo desenhava nas pedras formando uma parede decorada com figuras que ganância alguma conseguia invejar a história dos seus personagens. Cada figura tinha sua história. Os fatos relatados eram dos seus delírios, seus devaneios, um mundo criado pela sua solidão. Pouco real, mas muito bem explicado o mundo criado. Não tardou muito para ele dizer o que significa o ponto na entrada de sua caverna.

Prof. Esp. Padre Joacir d’Abadia
Filósofo

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