Milhões permanecem alheios aos pratos fartos, às bebidas refinadas e aos momentos de pausa que a prosperidade oferece.
O mérito do preço da mesa farta
A comida pode estar crua, mas ainda assim é alimento. Na vida, o verdadeiro sabor que partilhamos é o desejo de garantir que todos tenham algo sobre a mesa. Parece simples, mas esse ideal está cada vez mais distante. Enquanto os mais ricos investem energia em acumular ainda mais, milhões permanecem alheios aos pratos fartos, às bebidas refinadas e aos momentos de pausa que a prosperidade oferece.
Então surge a pergunta: será que estamos todos prontos para viver uma vida de abundância? Preparados para ganhar um bom salário, frequentar lugares caros, absorver o que a riqueza oferece além do luxo superficial? O mundo é desigual — disso ninguém duvida. Mas, olhando mais de perto, o problema pode estar também no que negligenciamos: o cultivo da formação pessoal.
Quantos realmente investem tempo em aprender uma língua estrangeira, em tocar um instrumento, bordar, compor, ou até ler dois livros por mês e refletir profundamente sobre o que consomem em filmes ou histórias? Será que estamos perdendo a oportunidade de construir o tipo de qualidade que transcende bens materiais?
A questão me provoca: quantas pessoas deixam “não quero saber de nada” ser mais do que uma frase de música? Para quantas isso virou uma bandeira de apatia crônica, uma verdade inabalável?
É evidente que a vida não é igual para todos. Mas para aqueles que lapidam incansavelmente sua formação pessoal, a experiência de vida é inevitavelmente mais rica. Existe mérito nisso. E seria injusto validar conquistas que surgem sem esforço algum.
Talvez a verdadeira desigualdade não seja apenas financeira, mas de visão. Entre os que abraçam a possibilidade de crescer, mesmo com os recursos que têm, e os que escolhem cruzar os braços. Afinal, ter o prato cheio é privilégio. Mas saber o que fazer com isso? Esse é um mérito conquistado, não dado. Assim, para comer um alimento cozido a pessoa precisa cozinhá-lo.
> Padre Joacir d’Abadia, filósofo, escritor e autor de 20 livros
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