
Entre o sol e o vento a saga do êxodo e a busca pelo sentido da vida, nas sábias palavras do Padre Joacir d’Abadia
Imagens geradas por IA Google Gemini
Texto: Padre Joacir d’Abadia Imagens geradas por IA Google Gemini |
O êxodo da vida humana
As transformações que ocorrem na vida das pessoas que saem do campo para a cidade.
O êxodo rural tem marcado profundamente a vida das pessoas. Ao sair da fazenda para morar na cidade, traz algumas mudanças significativas, as quais poderiam ser expostas em brevíssimas palavras. Esta mudança acarreta completamente o sentido da vida, visto que o fato de sair da roça para morar na cidade pode ter uma ótima e significativa relação com a transformação do “eu” no mundo. De uma forma ampla, global, percebe-se que a cada dia o homem busca novas experiências e, neste caminho incessante, consegue dar significado para sua vida. Em meio aos seus problemas sociais, o cotidiano marcado pelos desafios da sociedade, tudo isso pode mudar de maneira significativa a vida humana. No entanto, a vida não está em constante evolução? O homem está em contínua transformação, muda a cada dia sem deixar de ser ele mesmo. Todo seu estar no mundo, envolto aos grandes problemas da vida, os fracassos e também imerso nas conquistas que o faz sentir força para viver.
A reflexão sobre como o êxodo rural afeta a percepção do propósito da vida.
A perspectiva religiosa sobre o fracasso e como ele pode ser visto como uma escolha.
Deleitar o fracasso é significativo tão somente na experiência religiosa, pois na verdade, o homem busca sua realização nas pequenas conquistas. Contudo, no parâmetro religioso, o fracasso da vida é uma consequência da escolha que o homem faz: “escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19). Ele escolhe viver a vida marcado pela cruz do destino que lhe é imposto, carregada pelo clarão da experiência vivida no dia a dia debaixo do sol ardente.
A mudança na identidade e na forma como a pessoa se vê no mundo.

O sol ardia nas costas do trabalhador, seu clarão iluminava os olhos mais ávidos. A intensidade da luz até fazia cócegas às vistas cansadas. O vento soprava descompassado, anunciava um novo tempo, parecia ser tempo de seca, uma vez que a chuva havia cessado. Então, entre o sol que iluminava o dia e a luz nos olhos, restava ainda uma dúvida: “o tempo seria piedoso com quem o respeitasse? “ — Não é respeitoso! Aliás, nunca há piedade no tempo, ele é impiedoso, não espera a decisão de ninguém. A vida, a qual entra no tempo, é a mesma que, sem receio, é retirada levando-a para o mundo não apreciado por aquele que a ele acorre. Em contrapartida, tem-se o vento que sopra de um lado para o outro levando ideias, os sonhos, as buscas pelas conquistas.
A metáfora do vento como símbolo de mudança, ideias e oportunidades.
O vento passava como um cantor que busca nos acordes preencher a melodia do seu tocar. Era frio, era quente, era ele, o vento da mudança do tempo. Poderia mais que isso, poderia ser um vento que sopra ideias, reflexões sólidas, seria um criador de oportunidades. Em vez disso tudo, soprava o desalento de um dia sem esperança, sem criatividade, dia este que se impiedava à frente de qualquer vivente.
A transformação da vida através da esperança e da força de vontade.
Diante dos olhos, estendia um vazio salutar, aquele preenchido pela bondade e sabedoria escondida que se revelava a cada um pelo universo divinamente criado. Uma sabedoria à vista dos sentidos. Repousava no trópico desejo de ser macerado pelo instante que se vivia. A paz reinava, o acalento dava lugar aos pensamentos mais refinados, mais tranquilos que se poderia ter. Estava em meio ao deleite deste vazio que era aos poucos preenchido… Não estava mais sozinho, a graça daquele tempo estarrecia a alma combatente.
A transformação interior e a busca por um novo sentido na vida.
Aos prantos, saíram as pessoas que conseguiram fazer com que o clarão do sol e a força da ventania se transformassem em graça confessional. Naqueles corações borbulhava a esperança de que daquele dia em diante a vida seria transformada. O sorriso voltava para a boca e o coração deixava de bater em descompasso. Tudo poderia ser de barro, mas era, muito além disso, feito em aço puro aquele desejo de mudança de vida. Era, por fim, o êxodo da vida humana, seu lançar no mundo, agora com esperança e força de vontade de viver.
Padre Joacir d’Abadia

Sacerdote da Diocese de Formosa-GO, Filósofo, Escritor com 21 livros publicados, articulista, Especialista em Docência do Ensino Superior.
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