Com a chegada do Natal o poeta António Victor nos presenteia com mais uma pérola

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O AMOR É COMO ÁGUA

O amor é como água, não se o deve prender. Se o tens em tuas mãos, acolhe-o em forma de concha, sorve-o, suavemente, toca, sente, ouve-lhe os segredos antes que ele se transmute e te escape por entre os dedos.

Não exijas, não imponhas, não o prendas em cadeias, não faças dele refém. O amor é pássaro livre que não pertence a ninguém.

O amor, por ser como água, pode adequar-se em copo, jarro, bacia, lagoa, rio, mar, oceano. Ele é seu próprio juiz. Mas nunca se adapta em prisão, jaula, gaiola. Pode até permanecer por um tempo, uma estação, ou mesmo a vida inteira. Porém triste, magoado, infeliz.

Não, o amor não sonega

Do amor não se exige, solicita-se ou sugere. O amor paga espontâneos tributos, mas não lhe cobres imposto. Não, o amor não sonega, não burla, não trapaceia. Conquista-o, mas não o enlaces. Ele é sincero, transparente e não usa máscara, embora tenha mil faces.

O amor enleva, enobrece, arrebata. O amor não se faz escravo, nem escraviza. O amor não morre, nem mata.

E quando o amor se aproximar de ti, numa das suas infinitas aparências, não te apegues às suas roupas. Tenta estabelecer vínculos com a sua essência.

Ele reconhecerá teu desejo

O amor traz emoções perturbadoras, às vezes incompreensíveis, mas ele é mesmo é da paz. Faz o teu papel de recebê-lo, com tato, com paciência e zelo, arma-lhe uma tenda amarrada às cordas do teu coração. Ele reconhecerá teu desejo de o acolher no teu melhor terreno, ainda que esse lugar seja sobre uma nuvem de algodão-doce, flutuando, nas alturas. Mesmo porque, ele não tem compromisso com amarguras.

Por ser o amor como água, não o represes. Ele se ressente. Um dia ele arrebenta barreiras e se derrama feito rio corrente.

Tempo de despertar-te a alegria

E se um dia ele se for de ti, não o maldigas, não o injuries, não blasfemes. Apenas agradece o tempo em que ele se deu como hóspede em tua varanda, o tempo de regar com fino orvalho a tua roseira, o tempo de despertar-te a alegria, de te fazer sorrir, à mesa do café, durante o teu dia e à hora de dormir.

Deixa-o partir e manda lembranças tuas aonde ele for. E não te espantes, quando assim o fizeres, se ele der um passo atrás, olhar-te com ternura e sussurrar em teu ouvido: Ficarei um pouco mais!

Não, ele não é louco. Ele sabe exatamente o que deseja e o que faz. Ele é a verdade. Abraça-o e abre sulcos e valas, rasos ou profundos, nas terras férteis e cultiváveis do teu coração, e deixa-o fluir com naturalidade.

O amor é flexível

O amor é passível de adaptar-se e de moldar-se a qualquer formato, desde que livre. Ele não conhece o rancor, ele desconhece a mágoa. O amor é flexível, o amor é maleável, o amor é leve. E por saciar a qualquer sede, o amor é vida, o amor é como água!

António Victor

Professor, Poeta, Escritor, Compositor
dezembro 2022
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